A infestação por erva-de-santa-luzia (Euphorbia hirta) exige herbicidas eficazes sobre dicotiledôneas, mas seguros ao Tifton 85 (gramínea de elevado valor forrageiro). Segundo registros do Agrofit/MAPA, há diversos herbicidas indicados para E. hirta, abrangendo vários grupos químicos: por exemplo, inibidores da ALS (diclosulam, metsulfurom-metílico, trifloxysulfuron), inibidores de fotossíntese (diuron, prometryn, atrazina), inibidores do PROTOX (saflufenacil) e herbicidas sistêmicos de amplo espectro (glifosato isolado ou associado a 2,4-D). Em aplicação pré-emergência, todos os herbicidas testados obtiveram >90% de controle de E. hirta aos 28 dias, sugerindo uso de produtos residuais (ex.: trifluralina, pendimetalin, diclosulam) para impedir sua emergência. Em pós-emergência, destacam-se herbicidas seletivos a folhas largas, como os de base auxínica e ALS-inibidores, além de queimadores de contato. A fim de selecionar produtos compatíveis com Tifton 85, priorizam-se:
- Auxinas sintéticas: 2,4-D e derivados (e.g. Jade® 600 SL, Trinex®) são seguros para gramíneas e controlam ampla gama de dicotiledôneas. Combinações como aminopiralide + 2,4-D (ex.: Jaguar® 720 EC, Alabama®) e fluroxipir + aminopiralide (ex.: Trueno® XT, Planador® XT) ampliam espectro contra plantas semi-árbustivas. Esses herbicidas são sistêmicos e agem via floema em eudicotiledôneas. Exemplos comerciais: Jaguar® (CTVA) e Alabama® (Sumitomo) – ambos do grupo das piridinocarboxílicas – controlam eficientemente folhas largas em pasto.
- Triclopir: Longar® 792 EC (triclopir trietanolamina) é seletivo para pastagens e indicado contra dicotiledôneas anuais e perenes. Atua como auxina sintética sistêmica e geralmente produz leves fitotoxicidades nas gramíneas, que desaparecem em algumas semanas. Outros produtos à base de triclopir (e.g. triclopyr butoxietil) podem ser empregados em pastejo, respeitando recomendações específicas de rótulo.
- Inibidores da ALS: Herbicidas como metsulfurom-metílico (ex.: Minute® Ultra, Credit® WG) e florasulam/clorimuron são altamente eficazes contra ervas daninhas de folhas largas. O diclosulam (em Spider® 840 WG) é um potente inibidor de ALS pré-emergente de longa ação; controla E. hirta em pré e pós com baixa dose (≈20–35 g i.a./ha). Por exemplo, Spider® 840 WG (840 g/kg) recomenda-se em torno de 23,8–41,7 g produto/ha (20–35 g i.a./ha) para amplo espectro de dicotiledôneas. O usuário deve consultar bula para ajuste exato; em geral usa-se 0,02–0,05 kg i.a./ha no pasto.
- Inibidores da fotossíntese (FSII) e outros residuais: Triazinas (atrazina, prometryn, ametrina) e uréias (diuron) têm efeito residual no solo e controlam jovens plântulas de E. hirta. Por exemplo, diuron (Gesaprim®, Diuron®) pode ser aplicado em pré-emergência (normalmente 1–3 kg/ha) associando-se a outros herbicidas. Prometryn (e.g. Gesaprim) e atrazine são usados em culturas permanentes e também podem ser utilizados em Tifton 85, respeitando dose e intervalo (ex.: ~1,0–2,0 kg/ha). Saflufenacil (Serrano® 600 SC) é um herbicida de contato muito eficaz contra eudicotiledôneas jovens; aplicada pós-emergência foliar (geralmente 0,05–0,1 L/ha), promove necrose rápida do tecido. Esses produtos não são seletivos, portanto exigem uso rigoroso de dose e localização de aplicação para não prejudicar gramíneas vizinhas.
- Outros herbicidas: As misturas glifosato + 2,4-D (ex.: Roundup® PowerMax + Jade®), glufosinate + 2,4-D (ex.: Finale® + Jade®) e paraquat + 2,4-D podem atingir E. hirta resistente (essencial se há “tolerância ao glifosato” observada em campo). Ferreira et al. (2016) reportaram controle >95% com glifosato+2,4-D ou glufosinate+2,4-D em plantas jovens (2–4 folhas). Esses produtos, porém, não são seletivos: o glyphosate e glufosinate matam gramíneas (Tifton tolera parcialmente, mas podem causar injúrias transitórias), e o paraquat é um “queimador” não sistêmico. Por isso seu uso em pastagem requer extrema cautela (p. ex. somente em áreas degradadas, direção segura de aplicação e respeito a bordaduras).
Formulações comerciais e dosagens recomendadas
Em mercados brasileiros existem várias marcas com esses ingredientes. Exemplos relevantes incluem: Spider® 840 WG (diclosulam 840 g/kg), Jaguar® 720 EC (aminopiralide + 2,4-D), Alabama® 300 SC (aminopiralide), Longar® 792 EC (triclopir), Minute® Ultra WG (metsulfurom-metílico 600 g/kg), Gesaprim® 500 SC (prometryn 500 g/L) e Serrano® 600 SC (saflufenacil 600 g/L). As dosagens específicas variam conforme o produto e infestação, mas seguem faixas típicas por hectare:
- Diclosulam (Spider 840 WG): ~20–35 g i.a./ha (≈23–42 g produto/ha).
- Metsulfuron-metílico (Minute Ultra 600 WG): ~10–15 g i.a./ha (normalmente ~15–20 g produto/ha).
- Aminopiralide+2,4-D (Jaguar 720 EC): cerca de 150–300 mL/ha (equivale a 108–216 g aminopiral./ha + 324–648 g 2,4-D/ha).
- Aminopiralide isolado (Alabama 300 SC): típico ~200–400 mL/ha (60–120 g aminopir./ha).
- 2,4-D (Jade 667 SL ou similar): ~1,0–3,0 L/ha (667–2000 g a.e./ha).
- Fluroxipyr (Panoramic® 200 EC): ~0,75–1,2 L/ha.
- Triclopyr (Longar 792 EC): ~0,2–0,4 L/ha (≈158–317 g triclopyr/ha).
- Glifosato (720 a 960 g/L): ~1,5–3,0 L/ha isolado; em mistura com 2,4-D costuma-se usar ~2,0 L/ha de glifosato + 2,0 L/ha de 2,4-D.
- Glufosinate (Finale 200 SL): ~3–5 L/ha (até 1000 g a.i./ha) com 1–2 L/ha de 2,4-D.
- Paraquat (Gramoxone 240 SL): ~0,5–1,0 L/ha (+2,4-D similar a glifosato acima).
Esses valores são exemplos. Deve-se conferir a bula vigente de cada produto e, preferencialmente, orientar-se por um engenheiro agrônomo. Em todas as aplicações em pós-emergência recomenda-se incluir surfactante adequado (p.ex. óleo mineral a 0,1–0,2% v/v) e utilizar água em torno de 150–200 L/ha em pulverização terrestre comum.
Preparo da calda em bomba costal 20 L: para calcular a quantidade de produto, deve-se considerar a área efetivamente coberta. Por exemplo, calibrando-se o costal para 200 L/ha, 20 L de calda equivalem a 0,1 ha. Assim, basta usar 1/10 da dose/ha. Exemplo: se a dose do produto é 1,0 L/ha, deve-se usar 100 mL em 20 L de água. Se é 2,0 L/ha, usar 200 mL/20L. O volume de água pode variar conforme a calibragem (100 L/ha levaria 200 mL/20L, etc.). Preparar a calda preenchendo parcialmente com água, adicionando o herbicida e agitando bem. Incluir adjuvantes (surfactante, óleo mineral ou supersaturado de amônio) quando recomendados pela bula para melhorar cobertura e penetração foliar.
Época e condições de aplicação
A aplicação deve ser feita com as ervas daninhas em crescimento ativo, preferencialmente ainda jovens (fase vegetativa inicial). Estudos demonstram que E. hirta em estádio de 2–4 folhas responde muito bem (controle >95%) a aplicações de pós-emergência, especialmente com glifosato+2,4-D ou glufosinate+2,4-D. Em plantas já florescidas, a eficiência geral é menor: nessas condições, as opções mais eficazes são atrazina, certos inibidores de ALS (ex.: trifloxysulfuron), e misturas de contato com 2,4-D. Em suma, o ideal é aplicar antes da floração, quando as folhas jovens absorvem melhor o herbicida.
Outros cuidados de época: aplicar com solo úmido e clima favorável (sol pleno, temperaturas amenas, sem estresse hídrico ou calórico intenso). Evitar dias muito quentes (>30 °C) ou chuvosos. Não aplicar próximo ao campo em dias de vento forte (para minimizar deriva), ou se houver previsão de chuva nas próximas horas, a menos que a bula indique tolerância (ex.: Jaguar recomenda aguardar ≥4 h sem chuva após aplicação). Segundo a bula de Jaguar®, chuvas nas primeiras 4 horas reduzem a eficiência do produto, portanto interrompa a aplicação se previsto precipitação nesse intervalo. O estágio de umidade (drenagem boa, sem encharcamento) também deve ser observado: solos muito secos reduzem a absorção radicular dos herbicidas residuais; solos muito encharcados podem reduzir a aeração e a atividade microbiana necessária à degradação de resíduos.
Quanto ao manejo irrigado (aspersão): em geral, não se deve realizar aplicações de herbicidas logo antes de ligar irrigadores. Em herbicidas de contato (p. ex. paraquat, saflufenacil) recomenda-se esperar pelo menos 6–12 horas após a aplicação para irrigação, permitindo a absorção foliar. Para herbicidas residuais (diuron, trifluralina, etc.), uma irrigação leve após 1–2 dias pode ajudar a incorporar o produto ao solo (benefício em evitar deriva). Em sistemas de aspersão constante, planejar aplicações em momentos de parada programada ou dias sem irrigação.
Restrições climáticas e fitotoxicidade
Herbicidas solúveis em água e voláteis (ex.: 2,4-D, dicamba) têm restrições de vento e temperatura. Deve-se aplicar em ventos moderados (preferencialmente <10 km/h) e, no caso de 2,4-D, evitar temperaturas elevadas no momento da pulverização (úmido está favorece absorção sem queimaduras excessivas). Ao tratar áreas adjacentes a culturas sensíveis (p. ex. hortaliças, hortos florestais, etc.), manter bordaduras mínimas. A bula de Jaguar® (aminopiralide+2,4-D) exige faixa de 10 metros de borda sem aplicação para proteger culturas dicotiledôneas próximas.
O Tifton 85 apresenta boa tolerância aos herbicidas de folhas largas, mas nenhuma planta está totalmente imune. Aplicar sempre na dose mínima eficaz e em condições ótimas: gramíneas debilitadas (seca extrema, recém-plantadas) podem ser mais sensíveis. Estudos indicam que, em Tifton 85 bem estabelecido, tratamentos com diuron+MSMA ou 2,4-D causam injúrias leves e transitórias nas folhas (cloroses ou necroses pontuais) de 7–14 dias após aplicação, porém a planta se recupera totalmente em ~30 dias. Para reduzir riscos de fitotoxicidade: use adjuvantes homologados, não aplique sob estresse hídrico/calórico, evite taxas acima do recomendado, e realize teste de fitotoxicidade em pequena área quando usar produto novo. Lave equipamentos após aplicações hormonais (2,4-D, aminopiralide, etc.) para não contaminar áreas sensíveis. Sempre observe o tempo mínimo de reingresso (citado em bula) e recomendações de proteção ambiental (ex.: não pulverizar com vento dirigido a mananciais, etc.).
Conclusão
Para controle exclusivo químico de E. hirta em Tifton 85, recomenda-se o uso de herbicidas sistêmicos pós-emergência específicos para dicotiledôneas, preferencialmente em misturas que agreguem diferentes modos de ação. Entre os ingredientes ativos mais efetivos e seletivos destacam-se os auxínicos (2,4-D, aminopiralide, triclopir, fluroxipir) e os inibidores de ALS (metsulfuron, diclosulam). Produtos comerciais como Jaguar®, Alabama®, Longar® e Spider® 840 WG foram desenhados para pastagens e atacam bem E. hirta, desde que aplicados corretamente. Deve-se atentar às instruções de dose do fabricante (conforme apresentado) e às condições de aplicação (fase da planta, clima, irrigação). O manejo deve ser planejado: aplicar preferencialmente em plantas jovens (4–8 folhas), após chuvas iniciais, evitando ventos fortes e previsão de chuva em curto prazo. Respeite sempre as restrições do rótulo (bordaduras, intervalo de segurança, EPI, etc.) para maximizar controle e minimizar danos ambientais. Com a estratégia química adequada — ajustando dose, época e técnica — pode-se obter controle eficiente da erva-de-santa-luzia sem prejudicar o Tifton 85, mantendo a produtividade da pastagem.
Fontes:
Informações baseadas em registros oficiais (Agrofit/MAPA) e literatura técnica (Ferreira et al. 2016scielo.br, Corteva Agrisciencecorteva.com.br,
Sumitomo Chemicalsumitomochemical.com.br), bem como bulas e guias do produto (ex.: Spider® 840 WGagromercador.ag, Jaguar®agrolink.com.br).
Consultas às bulas atualizadas dos herbicidas são obrigatórias antes da aplicação.