A conservação de forragens desempenha um papel vital na indústria agrícola, garantindo um suprimento contínuo de alimento nutritivo para o gado ao longo de todo o ano. Em muitas áreas do Brasil as plantas forrageiras não têm condições apropriadas para se desenvolverem durante todo o ano em função de limitações relacionadas às baixas temperaturas e ou a deficiência de água. Uma vez que o requerimento animal é contínuo ao longo do ano, a conservação de forragem deve ser uma prática imprescindível adotada nos sistemas de exploração pecuária intensiva. Embora haja muitas variações nos sistemas de conservação de forragem, os principais métodos envolvem a ensilagem, a fenação e o pré-secado.
Ensilagem
A ensilagem é a principal técnica de conservação de forragens, é utilizada como alternativa para suprir a demanda de alimentos volumosos na nutrição de ruminantes em épocas de escassez (inverno), como suplemento em sistemas de pastejo ou como fonte principal para animais em confinamento.
O processo de ensilagem começa com a colheita das plantas forrageiras no estágio ideal de maturidade, quando apresentam teores ótimos de umidade e nutrientes. Neste processo, as plantas forrageiras são colhidas e picadas em pedaços pequenos, em seguida, compactadas em silos herméticos, onde ocorre a fermentação anaeróbica. Durante a fermentação, os açúcares presentes na forragem são convertidos em ácido lático, o que reduz o pH e preserva a matéria orgânica. A ensilagem produz um alimento altamente palatável e nutritivo, adequado para uma variedade de espécies animais.
A colheita: A rapidez no processo de colheita é um dos principais fatores para a obtenção de boa silagem, a forragem cortada continua a respirar (células ainda vivas) até a morte das células ou até que todo o oxigênio do meio seja removido (isso ocorre dentro do silo). No caso do capim elefante, as recomendações são entre 50 a 90 dias de crescimento vegetativo, estando com cerca de 1,5 a 2,0 metros.
A picagem: Para uma boa produção de silagem a forragem deve ser picada em pedaços de 2 a 3 cm, favorece a compactação da massa e facilita a retirada de oxigênio, o que determina melhor fermentação, as bactérias têm um maior contato com os elementos da forragem ensiladas melhorando a fermentação e conservação.
Enchimentos do silo: A velocidade no enchimento do silo e adequada compactação da massa determina a quantidade de oxigênio residual na massa ensilada. Os silos devem ser enchidos em, no máximo, 10 horas e serem fechados de preferência no mesmo dia do início, esses prazos devem ser respeitados para permitir a geração de um ambiente anaeróbico, que promova o desenvolvimento de bactérias produtoras de ácidos orgânicos (ácido lático) que garantirão a conservação da silagem.
Compactação: Quando mais comprimida a massa no interior do silo, melhor será a qualidade, a compactação, a distribuição do material que chega ao silo deve ser uniforme, efetuando a compactação logo após a descarga, deixando a superfície plana, sendo de 30 a 50 cm superior à massa ensilada.
Vedação: A vedação da entrada de ar permite a conservação da silagem por muito tempo, é fundamental que se proceda a vedação hermética do silo com lona plástica, deixando um pouco de lona excedente ao longo de toda a borda para que se coloque pesos, para evitar a formação de bolhas de ar.
Fermentação: Após todo oxigênio presente se esgotar, inicia-se a fase fermentativa ou anaeróbica, que se caracteriza pelo desenvolvimento de bactérias anaeróbicas já presentes no meio. A silagem bem fermentada apresenta poucas perdas no seu valor nutritivo, a fermentação láctica é causada por bactérias (lactobacillus) anaeróbicas que transformam amido em açúcares ( lactose) em ácidos láticos.
Dentre os silos mais empregados estão os de trincheira e superfície. Os silos de trincheiras, tem baixo custo de construção, facilidades para o carregamento, compactação e descarregamento, se trata de uma vala aberta em solo com desnível, é uma construção mais barata, podendo diminuir as perdas pela presença de paredes laterais, favorecendo o enchimento e compactação. Os silos de superfície possuem baixo custo, a construção deve ser feita em locais planos, podendo sofrer perdas pela ausência de paredes laterais e dificuldades na vedação adequada, deve-se evitar o contato da forragem com o solo, para isso a superfície precisa ser forrada.
As transformações da ensilagem atingem o final por volta de 20 dias após o carregamento, é recomendado abrir o silo apenas após 30 dias, a silagem deve ser retirada em camadas de 15cm e toda extensão exposta ao ar, iniciando o fornecimento gradativamente.
Uma parte dos nutrientes é perdida logo após o corte da forragem, o ar deixado ou penetrado no silo, e o teor de umidade do material ensilado que influencia nas reações químicas durante o armazenamento, podem ser consideradas perdas inevitáveis. Já as perdas evitáveis são a fermentação secundária que pode ocorrer no interior do silo, as perdas por deterioração, durante o enchimento, das técnicas usadas, densidade e vedação adequada no processo.
A ensilagem é um método altamente eficaz de conservação de forragens, permitindo aos produtores fornecer alimentos nutritivos e sustentáveis para o gado ao longo de todo o ano. Ao compreender os princípios básicos e as melhores práticas envolvidas no processo de ensilagem, os produtores podem maximizar a qualidade e a eficiência da produção de alimentos, promovendo assim a saúde e o bem-estar dos seus animais.
Fenação
O feno é o alimento obtido após a desidratação, cujos nutrientes são preservados pela ação, forragens destinadas à produção podem ser obtidas pela conservação do excedente de pasto em áreas de pastejo ou em áreas exclusivas de cultivo para essa finalidade. A qualidade do feno está associada a fatores relacionados à planta, às condições climáticas durante o processo de secagem e ao sistema de armazenamento empregado.
As forrageiras tropicais, resultam em fenos de boa qualidade, diferentes espécies de leguminosas e gramíneas podem ser usadas para fenação, tais como aveia, tifton, coast cross, grama-estrela, alfafa, entre outras.
Um bom feno deve possuir coloração esverdeada, cheiro agradável, ter boa porcentagem de folhas, ser macio, livre de impurezas e elementos tóxicos e ter boa digestibilidade. O feno é uma importante fonte de energia e proteína para todas as espécies de herbívoros, em particular bovinos, ovinos e equinos.
O passo inicial para o planejamento da produção de feno é a análise da composição química do solo, a correção do pH é o fator mais importante para o estabelecimento de uma nova cultura ou a recuperação de pastagens já existentes. Os capins tropicais, de maneira geral, precisam de três principais nutrientes (nitrogênio, fósforo e potássio), mas o elemento fundamental para altos índices de produção é o nitrogênio. A escolha da espécie forrageira para produção de feno não é uma decisão simples e deve levar em conta os fatores individuais de cada propriedade, resistência, tolerância, implementação e adaptação.
Colheita: A primeira etapa da fenação é a colheita da forragem, geralmente feita quando as plantas estão no estágio de crescimento adequado, antes de começarem a florescer, para garantir o melhor valor nutricional, o corte pode ser feito de maneira manual ou mecânica.
Secagem: E a etapa mais importante da fenação, cujo objetivo é reduzir a água da planta de 60 a 85% (no corte) para o máximo de 25%, no ponto de feno, quanto mais rápida a secagem, menores serão as perdas e melhor a qualidade do feno, a umidade é um fator crítico, pois o feno úmido pode levar a fermentação, deterioração ou crescimento de mofo.
Armazenamento do feno: O feno deve ser armazenado em local seco e ventilado, livre de umidade e sem perigo de incêndio, sob a forma de fardos, medas, solto no fenil, inteiro ou picado.
Os fardos podem ser feitos com o uso de enfardadeiras manuais ou ainda com enfardadeiras mecânicas, o enfardado oferece maior facilidade transporte e distribuição e menor área de armazenamento. O feno armazenado em meda pode ter algumas formas, sendo a mais comum a forma cônica. O armazenamento do feno solto é mais indicado para forrageiras picadas, porquanto elimina o gasto com o ensacamento, a picagem do feno é muito usada quando as forrageiras são grosseiras, para facilitar a secagem.
As perdas de nutriente no preparo do feno começam imediatamente após o corte, pelas reações de oxidação e respiração, que são inevitáveis durante a secagem, as perdas mecânicas, podem ocorrer em virtude do dilaceramento de folhas e caules, no momento do corte, considerando que essas frações fragmentadas não serão recolhidas pela enfardadeira, as principais causas de perdas de matéria seca estão no armazenamento de fenos com alta umidade e ao desenvolvimento de bactérias.
A fenação é um processo essencial na agricultura que desempenha um papel fundamental na produção de alimentos para animais. Através da colheita, secagem e armazenamento adequados da forragem, os agricultores podem garantir um suprimento constante e de alta qualidade de feno para alimentar seu gado e outros animais.
Pré-secado
O pré-secado é um processo que envolve a colheita de forragem em um estágio de maturidade específico, seguida por uma rápida desidratação da planta ainda no campo. Isso é alcançado por meio do uso de equipamentos especializados, como cortadores de forragem com condicionadores ou enfardadeiras que aplicam calor durante o enfardamento.
A remoção parcial de água da planta através do emurchecimento ou pré-secagem, pode ser uma opção interessante, por proporcionar condições ideais para o crescimento de bactérias láticas, e assim permitir que o excedente da forragem produzida nas pastagens possa ser armazenado e utilizado na alimentação dos animais durante o período de escassez.
Para sua confecção, a forragem deve passar por um período de desidratação ou emurchecimento antes de ser ensilada, visando a atingir o valor ideal de MS, que geralmente é baixo em gramíneas, as técnicas de pré-secado é muito utilizada em regiões de produção de leite, devido ao menor risco de perdas.
Um dos primeiros aspectos a serem considerados ao selecionar uma forrageira para o pré-secado é sua adaptabilidade às condições climáticas e de solo locais, as espécies e variedades de forrageiras devem ser capazes de prosperar nas condições específicas da região, garantindo um crescimento vigoroso e uma produção consistente ao longo do tempo. As forrageiras tropicais mais utilizadas são as espécies de Cynodon e até algumas braquiárias.
O processo de pré secagem: Tem finalidade restringir a extensão da fermentação durante o processo de conservação de forragens e reduzir a incidência de fermentações secundárias indesejáveis, as fases do processo se estendem do corte até a ensilagem ou enfardamento. As plantas precisam ser cortadas no ponto de equilíbrio entre a produção de MS e a qualidade nutricional, o ponto de corte deve ser feito no período vegetativo, entre 8 a 10 cm para que não afete a rebrota.
Desidratação: A remoção parcial de água da planta, através do seu emurchecimento, quando a forragem é cortada e espalhada no campo para secar a perda de umidade é intensa nas plantas, uma vez que o caule e as folhas se separam das raízes começa o processo de murchamento, o metabolismo da planta pode se prolongar quando a forragem é densa, quando a umidade atinge cerca de 45%, a forragem é recolhida e ensilada.
Vedação: A retirada do ar da massa ensilada, por compactação intensa, são fundamentais para a rápida cessão da respiração que, caso prolongada, aumenta a temperatura do material e leva à perda de energia na forma de calor.
Para que o processo seja bem executado, o tipo de silo é muito importante, sendo que os silos plastificados são os mais utilizados. Os silos plastificados (envelopados) constituem fardos cilíndricos, eles podem ser transportados de um local para outro, completando assim um período de falta de alimentos de uma cultura até o ingresso de outra. Cada fardo (bola de silagem envelopado) pesa em torno de 550 kg, sendo plastificado ou envelopado com filme de polietileno que garante adequada vedação, esse processo é realizado por uma enfardadeira e uma plastificadora, e o número de voltas irá depender do número do estrato e espessura do material plástico.
Os pré-secados são feitos de maneira adequada, apresentam aroma agradável e são mais palatáveis, tal fato pode explicar o aumento no consumo de matéria seca, quando esse tipo de volume é fornecido aos animais, podendo ser fornecidos como alimento principal ou complementar.
O manejo do pré-secado precisa de retirada da camada mínima diária, como o fardo pequeno as perdas por deterioração também tendem a ser menores, por isso a prática da retirada da silagem é manual, entretanto, esse tipo de manejo dificulta a logística, especialmente quando há grandes números de animais para serem alimentados.
O pré-secado oferece uma maneira eficaz de maximizar a qualidade nutricional da forragem e otimizar a eficiência operacional na produção agrícola, ao adotar as melhores práticas e investir em equipamentos adequados, os produtores podem colher os benefícios em suas operações de fenação, garantindo alimento de alta qualidade ao rebanho.
A conservação de forragens desempenha um papel fundamental na garantia de um suprimento estável e nutritivo de alimentos para o gado ao longo de todo o ano. Ao utilizar métodos como ensilagem, fenação e pré-secado, os produtores agrícolas podem superar os desafios e assegurar que seus rebanhos tenham acesso a uma dieta equilibrada e de alta qualidade. Além disso, a conservação de forragens contribui para a sustentabilidade das operações agrícolas, permitindo a gestão eficiente dos recursos disponíveis e reduzindo a dependência de suplementos alimentares externos. Ao adotar práticas de conservação de forragens, os produtores não apenas garantem o bem-estar animal, mas também promovem a viabilidade econômica e ambiental de suas operações pecuárias a longo prazo.
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Referências
Conservação de Forragens – Senar
CONSERVAÇÃO DE FORRAGEM: FENAÇÃO
TECNOLOGIAS PARA CONSERVAÇÃO DE FORRAGENS: FENAÇÃO E ENSILAGEM
CONSERVACAO DE FORRAGEM: Fenação e Silagem – Embrapa
Opções de forragem conservada na Região Sul
Forragicultura/ Antonio Ricardo Evangelista, Gudesteu Porto Rocha – Lavras: UFLA/FAEPE,1997. 246P p